• "Às vezes é preciso se render ao fantástico, parar de buscar respostas ou conclusões. Às vezes devemos simplesmente deixar o mito e a lenda tomarem os seus lugares. É isso que conta. É isso que nos faz diferente..."

    JBAlves

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Caça ou caçador?



Sua respiração estava pesada apesar de seu esconderijo ser perfeito.

Foi nesse momento que o leão entrou na caverna. Ele perscrutou o ar atrás de algum cheiro. Seus pêlos amarelados refletiam um tom estranho junto com a grande juba laranja, seus músculos poderosos estavam tensos, era incomum um leão adulto sair em caçada, ainda mais se aventurar em lugares fechados como a caverna.

O jovem sabia disso e se assustava com a possibilidade dele ser um espírito em forma de animal. Então avançou. Passo a passo começou a se afastar de onde estava escondido. Uma confiança que não acreditava possuir o havia dominado. Era o momento dele provar para sua tribo que já era um homem. A faca ritual que pendia em sua coxa esquerda foi a arma escolhida. No momento em que o animal se distraísse ele o atacaria pelas costas. Uma vez morto sua pele iria adornar o chão de sua cabana, e sua juba seria um adorno de grande honra na tribo.

Continuou avançando. O barulho do animal a sua frente o impelia a continuar. Seu coração parecia querer sair por sua garganta. Um suor frio descia por sua face. Ele estava nervoso, só tinha 20 anos e não seria um homem enquanto não tivesse matado seu primeiro leão. E acabar com um leão adulto sozinho provaria que ele era merecedor do título de guerreiro.

O jovem guerreiro diminuiu seus passos. O som que o grande leão fazia haviam cessado. Até mesmo o som de seu rabo que esvoaçava pelo ar havia silenciado. Até mesmo seu cheiro parecia querer escapar de suas narinas. Um tremor leve começou a surgir. Suas pernas começaram a amolecer, e o medo começou a dominá-lo.
O cheiro era bem nítido agora. O cheiro adocicado do medo. A presa tinha movimentos cuidadosos, porém não possuía a agilidade de um da sua espécie. Na sua pata esquerda pendia uma grande garra que brilhava como fogo para seus olhos acostumados com a escuridão. No entanto ele não tinha medo, suas garras eram em maior quantidade e pelo modo como o pequeno animal se movia, sua habilidade também era superior.

Ele se moveu. Seu pêlo por um momento roçou o teto onde se escondera. O buraco que havia se alojado cabia perfeitamente. E era chegado o momento de atacar. Sua mente estava voltada unicamente para esse objetivo. Caçar. Se alimentar. Sobreviver. Quando ele levasse o cadáver já semi-consumido para sua família ele provaria que era o líder mais indicado, não aquele velho que ocupava seu lugar de direito.

Esse último pensamento o lembrou da velha ferida que carregava no ventre. Era a marca de sua última batalha pela liderança. Porém, já se passara muitas noites. Era chegada a hora de novamente lutar. Porém dessa vez, iria vencer.

O Jovem parou arrepiado. Tinha a nítida impressão que estava sendo observado. Seus olhos perscrutaram toda a caverna. Nada era visível. Apenas um pequeno fogo no canto da parede o permitia visualizar as sombras. Foi nesse momento que viu duas pequenas brasas no canto superior da caverna, numa entrada da parede que não se lembrava.

Um grunhido bem baixo surgia. E diante dessa cena, o jovem humano ficou paralisado. O único movimento que sentia era o grito que começava a nascer em sua garganta.

A pequena presa havia parado bem embaixo dele. Era o momento da caçada. Seus olhos o fixaram longamente. O cheiro adocicado do medo fez com que seus pêlos se arrepiassem. Ele retesou seus músculos, preparando o salto que precederia seu rugido.

Então os gritos se fundiram. As garras se chocaram. O sangue espirrou de ambos os lados. As sombras se confundiam quando os corpos se engalfinhavam. A fúria partiu de ambos os lados. Os gritos precediam golpes que precediam cortes.
Dois corpos cairam feridos. A morte veio e rondou os dois lados da caçada e escolheu seu vencedor. O outro, aquele que sobrevivera, retornou para o convívio de seus iguais. Lá ele alcançou o que almejava.

Porém, seu prêmio não era nada se comparado com o que havia aprendido em sua última batalha.

Ele aprendera que a vida, em todos os seus momentos, sempre fazia parte de uma grande caçada. Sendo que descobrir quem é o predador e quem é a presa era a grande resposta que existia no final dela.

...


- Quem será que venceu? O jovem ou o Leão? -

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